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Greenhouse Gases

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Quando não está capturando carbono, Aline M. Castro escreve livros infantis

Esta química está trabalhando para tornar os combustíveis fósseis mais limpos, mas sua verdadeira paixão é divulgar ciência para as crianças

by Yessenia Funes, exclusivo para a C&EN
September 20, 2024 | A version of this story appeared in Volume 102, Issue 29

 

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Aline M. Castro tem por objetivo converter mais eficientemente o dióxido de carbono dos gases pós-combustão em carbonatos.
Credit: María Magdalena Arréllaga
Aline M. Castro

Aline M. Castro tira da bolsa um par de óculos de papelão amarelo que ela confeccionou. Eles lembram aqueles adereços que as pessoas usam na véspera do Ano Novo, com números adornando o rosto — só que esses não exibem dígitos. Pequenos pompons vermelhos, brancos e pretos formam uma estrutura química.

Informações vitais

Cidade Natal: Rio de Janeiro

Formação Acadêmica: Bacharelado em Engenharia Química, 2004, Mestrado em Tecnologias de Processos Químicos e Bioquímicos, 2006, e Doutorado em Engenharia Química, 2010, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Cargo atual: Consultora, Centro de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação Leopoldo Américo Miguez de Mello (CENPES), Petrobras

Projetos: Em 2022, fundei uma editora chamada Ciência, Leitura e Afeto, que se dedica à publicação de livros de divulgação científica, todos voltados para a educação infantil.

Hobbies: Costura, pintura, e reaproveitamento de materiais descartados, como a utilização de garrafas usadas como vasos de jardinagem. Também adoro contar histórias para crianças e personalizar meus jalecos para que sejam bem coloridos e divertidos para elas.

Eu sou: Latina

“Esta é a molécula de sacarose”, diz a engenheira química de 41 anos do outro lado da tela do computador, em uma chamada de vídeo. Ela aponta para cada uma das duas lentes: “Aqui estão a glicose e a frutose”.

Castro passou o início de sua carreira pesquisando como usar a sacarose, especificamente o açúcar derivado da cana, para substituir fontes de energia mais poluentes, como os combustíveis fósseis. O Brasil, país onde vive e trabalha, é o maior produtor de açúcar do mundo e, naturalmente, o segundo maior produtor de etanol, um combustível que pode ser obtido a partir da molécula doce.

Ela gosta de usar esses óculos quando fala sobre sustentabilidade para alunos do ensino fundamental. Ela confecciona esses materiais com a filha nos fins de semana. Às vezes, elas fazem um par de óculos rápido ou personalizam uma tiara azul-marinho com um polvo e um peixe-palhaço. Outros projetos duram vários finais de semana, como os jalecos de laboratório que a mãe e a filha pintam com ilustrações científicas de células vegetais verdes ou células vermelhas do sangue.

Castro é uma pesquisadora que também é educadora, escritora e mãe. Ela é autora de sete livros ilustrados sobre ciências ambientais que abordam o tema para crianças pequenas - uma paixão inspirada por sua filha. Mas seu trabalho fixo é na Petrobras, uma empresa petrolífera brasileira. Desde 2007, tem sido inovadora em combustíveis renováveis, reciclagem de plásticos e tecnologias de captura de carbono como pesquisadora sênior e consultora na empresa pública.

No entanto, ela não entrou na empresa para perpetuar o uso de combustíveis fósseis durante a era de ondas de calor e incêndios florestais que bateram recordes. “Trabalhar com petróleo nunca foi minha intenção”, diz ela. Ela acredita que empresas de energia como a Petrobras podem contribuir para corrigir os estragos provocados mediante investimentos em energias renováveis e matérias-primas alternativas, como o biogás.

Atualmente, grande parte de seu tempo é dedicado ao desenvolvimento de novas abordagens de captura e utilização de carbono. Alguns cientistas consideram a tecnologia de captura de carbono controversa, sobretudo devido à sua popularidade entre as empresas de combustíveis fósseis, ao passo que outros a consideram necessária para reduzir as emissões globais de gases de efeito estufa. Castro está investigando solventes básicos que podem isolar o dióxido de carbono do metano ou do gás de combustão e convertê-lo eficientemente em novos produtos, como carbonatos e carbamatos.

As enzimas da anidrase carbônica, por exemplo, auxiliam na aceleração da reação entre o dióxido de carbono e a água na produção de bicarbonato, um produto químico versátil, proveniente do gás de efeito estufa. Se Castro puder identificar as melhores condições específicas do processo, no futuro as usinas de captura de carbono poderão exigir reatores menores, menos aço, menos água e, principalmente, menos energia.

Há “muitas vantagens”, diz Castro. “Precisamos agilizar a implementação dessa tecnologia de baixo carbono em altíssima escala.”

As enzimas que capturam o dióxido de carbono em um ambiente industrial são as mesmas que movem o dióxido de carbono em nosso organismo, diz Castro. “Sempre foi fascinante ver o paralelo entre a biologia da vida real e a química e como podemos mimetizar essas reações naturais”, diz ela.

Precisamos agilizar a implementação dessa tecnologia de baixo carbono em altíssima escala.

O fascínio e o amor pelo mundo natural foi o que a atraiu para a ciência em primeiro lugar. “Eu estava a par das preocupações ambientais com o planeta, então queria fazer algo que contribuísse para torná-lo um lugar melhor para se viver”, conta ela.

Castro cresceu nas proximidades de favelas do Rio de Janeiro, bairros densos onde muitas famílias têm renda abaixo da linha de pobreza do Brasil e carecem de serviços de saneamento básico. “A paisagem urbana era degradada”, diz ela. Quando caminhava pelas ruas com sua mãe, ela via resíduos plásticos e pneus espalhados. Quando a mãe podia, escapavam nos finais de semana para parques e o jardim botânico, mas Castro ficava sozinha na maioria dos dias enquanto a mãe trabalhava. Foi somente no seu aniversário de 10 anos que ela encontrou um alívio para sua solidão — na ciência.

Seu pai a presenteou com um microscópio que lhe permitia descobrir detalhes invisíveis a olho nu. Ela capturava formigas e as explorava em diferentes níveis de zoom. Avaliava amostras de plantas e poeira. Às vezes, misturava cores e pigmentos só para ver o que acontecia.

Aline M. Castro usa jaleco, luvas e óculos de proteção e utiliza equipamentos dentro de uma capela de exaustão.
Credit: María Magdalena Arréllaga
Aline M. Castro tem por objetivo converter mais eficientemente o dióxido de carbono dos gases pós-combustão em carbonatos.

Agora ela percebe como essa exploração livre foi importante para sua criatividade, declara. Em sua infância, Castro não tinha acesso a brinquedos novos, então começou a fazer artesanato, criando guarda-roupas para suas bonecas a partir de caixas de sapato. O que parecia ser uma brincadeira de criança estava, na verdade, ajudando-a a desenvolver a imaginação que ela regularmente exercita no laboratório. “Tive que treinar meu cérebro para construir coisas e imaginar como elas seriam, colando-as nesta e naquela posição e misturando materiais. Como cientistas, somos inventores.”

Sua mãe a ajudou a se tornar a primeira de sua família a ir para a universidade. Castro frequentou a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) desde a graduação até o doutorado, onde teve excelente desempenho.

Denise Maria Guimarães Freire, professora da UFRJ, descreve sua então aluna como “dedicada, atenta e com uma curiosidade científica única”. Castro possui a rara combinação de rigor científico, habilidade de escrita e criatividade, diz ela.

Nei Pereira Jr., professor emérito da UFRJ que também deu aulas para Castro, afirma que ela é uma das melhores alunas que ele já teve entre os quase 150 que supervisionou ao longo de sua carreira. Os dois trabalharam juntos na dissertação de mestrado da pesquisadora para desenvolver “um coquetel enzimático”, definido por ele, que ajudaria a quebrar as paredes celulares dos resíduos da cana-de-açúcar em um ambiente industrial. Esse trabalho inicial ajudou a embasar muito de seu trabalho na comunicação com crianças - e também a inspirar os adoráveis óculos de sacarose. Pereira admira o compromisso de sua ex-aluna em alcançar as crianças.

“Aline reconheceu a importância de levar o conhecimento ao nível mais básico da educação e tem feito isso de forma acessível e cativante”, disse ele. “Seu exemplo deveria inspirar outros pesquisadores a despertar o interesse das crianças por assuntos complexos.”

Castro adora escrever desde criança, mas não planejava se tornar uma autora. Quando sua filha completou 4 anos, passou a ler livros para ela, mas não encontrou muitos que falassem sobre sustentabilidade. Então ela pensou em escrever um. Seu primeiro livro foi publicado em 2021. Todos os exemplares foram doados a organizações sem fins lucrativos que trabalham com crianças de grupos socioeconômicos mais baixos no Brasil.

Em seus livros, Castro compartilha contos fantásticos em que as crianças podem viajar pelo oceano em um submarino para livrá-lo do plástico. Ela desafia seus leitores a sonhar assim como ela sonhou quando tinha a idade deles. Ela mostra a eles como a ciência pode mudar o mundo. Afinal de contas, foi por isso que ela se tornou cientista.

Tradução para o português realizada por Luisa Forain para a C&EN. A versão original (em inglês) deste artigo foi publicada em 20 de setembro de 2024.

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