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Drug Development

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Anabella Villalobos redefiniu a maneira de tratar doenças neurológicas

Durante décadas, esta química medicinal liderou pesquisas com o sistema nervoso central, desenvolvendo dezenas de medicamentos para a prática clínica

by Bec Roldan, exclusivo para a C&EN
September 20, 2024 | A version of this story appeared in Volume 102, Issue 29

 

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Anabella Villalobos está sorridente em pé em um pátio.
Credit: Jodi Hilton
Anabella Villalobos

Quando Anabella Villalobos deixou sua cidade natal, a Cidade do Panamá, em 1981, para fazer um mestrado nos Estados Unidos, estava muito entusiasmada com o que achava que seria um curto período no exterior. “Nunca planejei realmente ficar”, lembra-se. “Sempre tive em mente que voltaria”.

Informações vitais

Cidade Natal: Cidade do Panamá

Formação acadêmica: Bacharelado em Química, Universidade do Panamá; Doutorado em Química Medicinal, Universidade do Kansas, 1987

Cargo atual: Chefe de bioterapêutica e ciências medicinais, Biogen

Conselho profissional: Seja aberto e peça feedback. Isso fará de você uma pessoa melhor.

Elemento favorito: Carbono. Precisamos de carbono para produzir medicamentos para os pacientes.

Gênero musical favorito: Salsa. Sou uma grande fã de Rubén Blades, um cantor de salsa panamense.

Eu sou: Latina

Mas aquela viagem inicial para longe da costa ensolarada onde Villalobos adorava passar seu tempo durante a infância se transformou em décadas de uma ascensão ao topo do setor farmacêutico dos EUA. Villalobos, que agora atua como chefe de bioterapêutica e ciências medicinais da Biogen, desenvolveu tratamentos de ponta para distúrbios neurológicos, como o mal de Alzheimer, e ganhou fama ao levar novas terapias para a clínica.

Ela se encantou pela química pela primeira vez em uma aula de química orgânica no ensino médio. “Na verdade, ainda tenho meu caderno do último ano”, o qual ela mantém por perto até hoje. Ela passou a estudar química na Universidade do Panamá, que na época era a única instituição do país que concedia diplomas de química.

Enquanto se preparava para a pós-graduação, ela conquistou uma bolsa de estudos Fulbright-Hays, que atenuou as limitações financeiras do programa de mestrado. E a educação bilíngue recebida enquanto estudava no Panamá reduziu as barreiras linguísticas que enfrentou em uma instituição sediada nos EUA. “O Panamá é um país com muita influência dos EUA”, diz ela. Mas, mesmo assim, ela ri quando pensa em aperfeiçoar seu inglês de conversação. “Meus colegas estudantes de pós-graduação falavam a centenas de milhas por minuto.”

Villalobos permaneceu na Universidade do Kansas após o mestrado para cursar o doutorado em Química Medicinal. Em seguida, trabalhou como bolsista de pós-doutorado do National Institutes of Health na Universidade de Yale. Apesar de originalmente interessada em oncologia, Villalobos conseguiu seu primeiro emprego na área farmacêutica no grupo de neurociência da Pfizer em 1989. Ela logo desenvolveu uma paixão por doenças neurológicas, especificamente o mal de Alzheimer.

Naquela época, os cientistas sabiam pouco sobre as causas por trás da doença. A doença de Alzheimer “é uma doença difícil que exige muita paciência”, diz ela. “É mais difícil identificar um determinado impacto no cérebro” do que em outros órgãos dos quais é mais fácil fazer uma biópsia.

Um de seus primeiros projetos na Pfizer envolveu o projeto e o desenvolvimento do icopezil, um medicamento para tratar os sintomas cognitivos da demência causada pela doença de Alzheimer. O icopezil avançou para os testes clínicos de fase II e estava em uma classe farmacológica semelhante ao primeiro grupo de medicamentos que a Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA aprovou para tratar cognição na doença de Alzheimer, como o donepezil e a rivastigmina. “Foi uma das experiências mais gratificantes que já vivi”, diz ela. “Foi minha primeira entrada no setor clínico e me ensinou sobre o caminho do desenvolvimento para disponibilizar um medicamento aos pacientes”, incluindo aspectos científicos, regulatórios e clínicos do desenvolvimento de um medicamento.

Contudo, o donepezil e outros tratamentos iniciais para o Alzheimer não retardaram a progressão da doença, de modo que Villalobos se concentrou no desenvolvimento de um tratamento para modificação da enfermidade — um medicamento que tivesse como alvo a causa central da doença. Ela manteve seu objetivo em mente ao subir na hierarquia da Pfizer, tornando-se, por fim, a chefe de tecnologias de síntese medicinal da empresa.

Para encontrar candidatos a fármacos para neurociência que pudessem avançar ainda mais na parte clínica, Villalobos ajudou a criar uma ferramenta de otimização multiparâmetro do sistema nervoso central (CNS MPO) (ACS Chem. Neurosci. 2010, DOI: 10.1021/cn100008c). Ao passo que as abordagens dos projetos anteriores avaliaram as propriedades de uma molécula em relação a regras individuais para determinar o potencial do medicamento, o CNS MPO pontuou seis propriedades principais para medicamentos para o sistema nervoso central e criou uma pontuação composta, ampliando o campo de possíveis medicamentos para o sistema nervoso central ao incluir moléculas que podem não atender a determinadas regras, mas que ainda podem, por exemplo, atravessar a corrente sanguínea até o cérebro. Essa ferramenta se tornou um “padrão na área”, diz Michael Ehlers, que trabalhou anteriormente com Villalobos como diretor científico de neurociência da Pfizer.

Alzheimer’s "é uma doença difícil que exige muita paciência.

Ehlers e Villalobos atuaram juntamente a fim de alcançar resultados clínicos mais bem-sucedidos para a equipe de neurociência. “Utilizamos uma abordagem muito mais experimental para o desenvolvimento clínico inicial, e Anabella foi uma parceira essencial durante esse processo”, diz Ehlers. Os dois trabalharam muito bem juntos, desenvolvendo um portfólio robusto de candidatos a medicamentos com “dados clínicos interessantes”, diz Ehlers.

Anabella Villalobos está em pé em um corredor enquanto conversa com Nadia D'Lima e Ye Wang.
Credit: Jodi Hilton
Anabella Villalobos (centro) e os cientistas da Biogen Nadia D'Lima (esquerda) e Ye Wang (direita) empregam inteligência artificial e aprendizado de máquina na identificação e no desenvolvimento de fármacos.

Após a mudança de Ehlers para a Biogen em 2016 para chefiar os esforços de pesquisa e desenvolvimento da empresa, ele recrutou Villalobos para integrar a pesquisa de química medicinal da Biogen com suas modalidades terapêuticas. “Foi uma função de maior importância para mim”, diz Villalobos. “Tive a oportunidade de aprender mais sobre produtos biológicos e terapia gênica”, indo além das pequenas moléculas nas quais ela se concentrava na Pfizer.

A Biogen obteve sucesso recente em tratamentos que modificam a doença de Alzheimer, mais recentemente com a aprovação pela FDA de um anticorpo monoclonal, o lecanemab, desenvolvido em parceria com a Eisai. É o primeiro medicamento para Alzheimer totalmente aprovado que trata a doença, não apenas os sintomas, reduzindo o número de placas amilóides-β no cérebro. Os cientistas consideram esses aglomerados de fragmentos de proteínas como a causa principal do Alzheimer.

“É muito encorajador para alguém como eu, que já está no campo há muito tempo”, diz Villalobos. “Ver o primeiro conjunto de aprovações para modificação da doença é muito gratificante, e acredito que ainda haverá mais.”

Além do histórico de sucesso científico de Villalobos, Ehlers enfatiza que suas habilidades de liderança e orientação são o que a tornam especial. “Ela é um ímã de talentos”, conta ele.

Villalobos afirma que formar a próxima geração de líderes científicos é uma responsabilidade fundamental de seu trabalho. Ela identifica os pontos fortes das pessoas e as inicia em áreas em que sabe que serão boas. “A partir daí, elas ganham confiança”, diz ela. “E então elas decolam.”

“Ela revela o que há de melhor nas pessoas”, diz Gayathri Ramaswamy, que tem Villalobos como mentora desde que se conheceram na Pfizer, há mais de dez anos. “É muito raro encontrar alguém como Anabella — uma cientista e líder forte e inteligente que tem muita empatia e inteligência emocional”, declara Ramaswamy.

Ramaswamy se recorda de Villalobos incentivando-a a expressar suas opiniões em reuniões quando há vozes bem mais altas na sala. “Eu incentivo as mulheres a levantarem a mão, estarem prontas para contar sua história e pedir o que querem”, diz Villalobos.

Entre a ciência e a orientação, Villalobos ainda encontra tempo para viajar ao Panamá todos os anos com sua família e visitar as praias de sua infância. Com mais frequência, porém, ela encontra esses confortos da infância ao longo da costa perto de sua casa em Connecticut e, de vez em quando, folheia seu caderno de química do ensino médio, embora as anotações a lápis tenham desbotado.

Tradução para o português realizada por Luisa Forain para a C&EN. A versão original (em inglês) deste artigo foi publicada em 20 de setembro de 2024.

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