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Physical Chemistry

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Eusebio Juaristi dedicou sua carreira a pensar em moléculas em 3D

Este físico-químico orgânico também contribuiu para o desenvolvimento da química orgânica na América Latina

by Laura Vargas-Parada, special to C&EN
September 20, 2024 | A version of this story appeared in Volume 102, Issue 29

 

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Eusebio Juaristi segura uma molécula construída a partir de um modelo químico feito de bolas e palitos.
Credit: Alejandra Rajal Ramirez
Eusebio Juaristi

Eusebio Juaristi se levanta no meio de nossa conversa e volta com uma sacola cheia de palitos de plástico coloridos. Ao encaixar os palitos em pequenas junções, constrói modelos moleculares tridimensionais que ilustram um pouco de seu trabalho, sobre o qual a maioria dos químicos já ouviu falar, mesmo que não reconheçam seu nome.

Informações vitais

Cidade Natal: Querétaro, México

Formação acadêmica: Bacharelado em Química, Instituto de Tecnologia e Ensino Superior de Monterrey, 1972; Doutorado em Química Orgânica, Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill, 1977

Cargo Atual: Professor de Química, Centro de Pesquisa e Estudos Avançados do Instituto Politécnico Nacional (Cinvestav), Cidade do México

Melhor conselho profissional que já recebi: Quanto mais me esforço, mais sorte tenho.

Músicas favoritas: “Let It Be” e “Non, Je Ne Regrette Rien”

Eu sou: Mexicano

Juaristi, professor emérito do Centro de Pesquisa e Estudos Avançados do Instituto Politécnico Nacional (Cinvestav) da Cidade do México, é um dos químicos mais citados da América Latina e recebeu quase todos os prêmios nacionais concedidos no México. “Ele é uma estrela do rock”, diz Rodrigo Patiño, pesquisador da Cinvestav Mérida, em Yucatán, México. Patiño conhece Juaristi desde 1995, quando deu início à sua pesquisa de doutorado no laboratório vizinho ao do físico-químico orgânico.

Alguns colegas consideram Juaristi um dos maiores estudiosos do efeito anomérico. Um princípio básico da análise conformacional determina que os substituintes em anéis de seis membros tendem a se posicionar equatorialmente ou no mesmo plano do anel. O efeito anomérico refere-se aos casos em que os substituintes se posicionam axialmente, projetando-se para fora do plano do anel.

Utilizando os modelos moleculares, ele demonstra como sua equipe de pesquisa descobriu que uma molécula heterocíclica orgânica usada para síntese assumiu uma conformação que parecia impossível. Seu substituinte volumoso estava pairando acima do anel, e não ao lado dele. “Tínhamos evidências de uma interação anomérica forte e sem precedentes”, explica ele (J. Org. Chem. 1982, DOI: 10.1021/jo00146a048).

No entanto, tal como outros princípios fundamentais que regem a física molecular, “o efeito anomérico, por exemplo, não é um tópico de grande interesse”, diz ele.

Ao utilizar o kit de modelo molecular para contar a história da descoberta, o pesquisador começa a recordar como o próprio kit tem uma história. Quando estava na graduação, em 1970, ele participou de um curso de curta duração sobre estereoquímica, onde conheceu Ernest L. Eliel, um dos criadores da análise conformacional. “Eliel percebeu como eu estava intrigado com seus modelos moleculares Fieser e os deu de presente para mim. Cinquenta e quatro anos depois, eu ainda os utilizo”, diz Juaristi, referindo-se aos palitos de plástico espalhados sobre a mesa. Em 1972, foi para a Universidade da Carolina do Norte, em Chapel Hill, para fazer seu doutorado sob a orientação de Eliel.

Em 1979, depois de terminar o pós-doutorado na divisão de diagnósticos da Syntex em Palo Alto, foi convidado a ingressar no Departamento de Química da Cinvestav, na Cidade do México. “A essa altura, eu já havia decidido que queria ter meu próprio grupo de pesquisa e realizar pesquisas independentes”, conta ele. “Também concluí que minha contribuição em potencial como professor e pesquisador teria um impacto muito mais significativo no México.”

C. Dale Poulter, ex-editor-chefe do Journal of Organic Chemistry, considera excepcional o trabalho de Juaristi em análise conformacional, síntese enantiosseletiva de β-aminoácidos e organocatálise assimétrica. Em especial, Poulter destaca o papel do cientista no desenvolvimento do campo da físico-química orgânica na América Latina pois, uma vez que o pesquisador foi um pioneiro no estabelecimento de um programa rigoroso de formação de estudantes no México no final da década de 1970. “O impacto de seu trabalho se estendeu por toda a América Latina, pois seus alunos partiram para outros países e estabeleceram seus próprios programas”, diz ele.

Também concluí que minha contribuição em potencial como professor e pesquisador teria um impacto muito mais significativo no México.

Nos últimos anos, Juaristi tem sido um dos mais determinados defensores da química verde no México. Seu objetivo é desenvolver produtos e processos que reduzam a liberação de resíduos prejudiciais ao meio ambiente. Ele está particularmente interessado em usar moinhos de bolas de alta energia a fim de desenvolver processos catalíticos livres de solventes. “Somos pioneiros na aplicação da mecanoquímica na síntese de peptídeos, bem como na organocatálise assimétrica através da ativação mecanoquímica.”

Apesar da admiração de Patiño por Juaristi, o pesquisador veterano é bastante desconhecido pelos químicos fora do México. Como uma possível explicação para isso, seus colegas argumentam que as ciências fundamentais, a exemplo da que ele desenvolveu, não são suficientemente divulgadas. No entanto, Guillermo Delgado Lamas, ex-presidente da Sociedade Química do México, também aponta para o forte ceticismo em relação à pesquisa que vem de qualquer lugar que não seja os famosos centros de pesquisa da Europa ou dos EUA.

Juaristi concorda que tende a haver um preconceito, especialmente contra jovens cientistas da América Latina. “Quando você escreve um artigo, alguns colegas preferem citar o trabalho realizado em instituições dos Estados Unidos, Europa ou Japão”, diz ele.

Trabalhando no México nos últimos 45 anos, Juaristi observou muitas mudanças, algumas boas e outras ruins. De modo geral, ele elogia os avanços alcançados em toda a América Latina. “O número de estudantes, departamentos de química, programas de pós-graduação em química — não apenas no México, mas em outros países como Brasil, Argentina e Colômbia — é motivo de orgulho”, diz ele.

Eusebio Juaristi usa um jaleco e está sentado em um laboratório de química. Seu corpo está parcialmente encoberto por uma prateleira.
Credit: Alejandra Rajal Ramirez
Eusebio Juaristi sentado em seu laboratório. Nenhum experimento estava em andamento e o equipamento estava desligado por ocasião da foto.

Por outro lado, os cientistas enfrentam novos desafios com governos céticos quanto à importância da educação e da pesquisa. Consequentes cortes de bolsas de estudo e subsídios ocorreram recentemente no Brasil, México e Argentina. “Os últimos seis anos foram muito difíceis porque o atual governo do México não apoia a ciência”, diz ele.

Juaristi, assim como muitos de seus colegas, perdeu sua bolsa do Conselho Científico Mexicano. A presidente eleita, Claudia Sheinbaum, prometeu reverter essa negligência, embora o pesquisador esteja cético de que “os recursos financeiros disponíveis serão suficientes para honrar essa promessa”.

Apesar dos problemas, Juaristi vê um futuro brilhante para seu laboratório. Ele recorda um comentário do ganhador do prêmio Nobel Herbert Brown que o marcou. Brown visitou o México na década de 1990 e, após sua palestra, disse que seus melhores esforços em química ocorreram depois de ganhar o prêmio, já na casa dos 60 anos. O comentário agora faz todo o sentido para Juaristi: “Não há motivo para parar. Estou iniciando projetos novos e estimulantes. Tenho muitas ideias, tenho apenas 73 anos de idade.”

Tradução para o português realizada por Luisa Forain para a C&EN. A versão original (em inglês) deste artigo foi publicada em 20 de setembro de 2024.

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