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Infectious disease

C&EN em Português

Estudo genético sugere que o tipo sanguíneo das pessoas pode afetar o risco de contrair a COVID-19

Pessoas com sangue tipo A podem ter maior risco de contrair uma doença grave, enquanto pessoas com tipo O podem ter menor risco

by Alla Katsnelson, special to C&EN
July 15, 2020 | A version of this story appeared in Volume 98, Issue 23

 

A photograph of a bag containing type O blood.
Credit: Shutterstock
Pessoas com sangue tipo O podem apresentar um risco menor de desenvolver doença respiratória grave por SARS-CoV-2.

Acesse todo o conteúdo em português da C&EN em cenm.ag/portuguese.

Na semana passada, um estudo genético com mais de 1.610 pacientes com a COVID-19 na Itália e na Espanha descobriu que pessoas com sangue tipo A tinham uma chance maior de desenvolver insuficiência respiratória grave do que pessoas com sangue tipo O (medRxiv 2020, DOI: 10.1101/2020.05.31.20114991). As descobertas reforçam uma ideia que vem se desenvolvendo desde o início da pandemia global: de alguma forma, o sangue tipo O protege contra a doença, enquanto o tipo A pode tornar as pessoas mais vulneráveis.

No novo estudo, os pesquisadores sequenciaram os genomas de pacientes com a COVID-19 na Espanha e na Itália que foram hospitalizados com insuficiência respiratória grave e compararam variações em suas sequências de DNA com as de 2.205 indivíduos saudáveis. Descobriram duas regiões do DNA nas quais as variações de sequência estavam significativamente ligadas ao grau de doença das pessoas. Uma dessas regiões contém o gene que codifica o tipo sanguíneo ABO de uma pessoa. As descobertas foram publicadas no servidor de pré-impressão medRxiv e ainda não foram revisadas por pares.

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Em 8 de junho, a empresa de genômica pessoal 23andMe divulgou resultados preliminares de um estudo com 750.000 pessoas que chegaram a conclusões semelhantes. A empresa descobriu que pessoas com sangue tipo O tinham uma probabilidade 9-18% menor de contrair a COVID-19 do que pessoas com outros tipos sanguíneos. Os resultados de ambos os estudos recentes estão alinhados com os de vários outros relatórios publicados no início deste ano, incluindo duas pré-impressões de um hospistal de Wuhan (medRxiv 2020, DOI: 10.1101/2020.03.11.20031096) e um hospital de Nova York (medRxiv 2020, DOI: 10.1101 / 2020.04.08.20058073) e um estudo revisado por pares de Wuhan (Br. J. Hematol. 2020, DOI: 10.1111/bjh.16797).

Não é possível um aprofundamento nos resultados do 23andMe porque a empresa não publicou seus dados, diz Fumiichiro Yamamoto, um imunohematologista do Instituto de Pesquisa em Leucemia Josep Carreras, em Barcelona, que identificou o gene que codifica os antígenos do tipo sanguíneo nos anos 90. Segundo ele, entretanto, a evidência de uma ligação entre o risco de doença grave de COVID-19 e o tipo sanguíneo agora é sólida. O recente estudo medRxiv “é muito mais conclusivo” do que o trabalho anterior, porque os pesquisadores pesquisaram 8,5 milhões de regiões genéticas de maneira imparcial para estabelecer a associação, afirma Yamamoto.

Ainda não se sabe como exatamente o tipo sanguíneo pode desempenhar um papel na infecção por SARS-CoV-2. Andre Franke, geneticista molecular da Universidade de Kiel e co-autor principal do estudo medRxiv, disse ao New York Times em 3 de junho que só podia especular sobre o assunto. Ele também observou que a região gênica que codifica o tipo sanguíneo também está associada a níveis elevados de uma molécula imune-chave, portanto, teoricamente, isso também poderia contribuir para a conexão com a COVID-19. Entretanto, os pesquisadores que estudam o tipo sanguíneo têm algumas ideias concretas, em parte baseadas em pesquisas realizadas durante a epidemia de síndrome respiratória aguda grave (SARS) em 2002-3, causada pelo SARS-CoV-1, um primo viral do coronavírus COVID-19.

O tipo sanguíneo é determinado por moléculas de açúcar específicas que são adicionadas a proteínas ou lipídios em nossas células sanguíneas e em outros tipos de células. As pessoas com sangue tipo A carregam os chamados antígenos de açúcar A, as pessoas com sangue tipo B apresentam antígenos B e as pessoas com sangue tipo O nenhum dos dois. Do mesmo modo, o sistema imunológico de pessoas com sangue tipo A desenvolve anticorpos para antígenos B, pessoas com sangue tipo B têm anticorpos para antígenos A e pessoas com sangue tipo O têm anticorpos para ambos.

A proteína spike de SARS-CoV-2, que é uma molécula chave utilizada pelo vírus para infectar células, também é fortemente glicosilada, diz Laura Cooling, diretora de imunohematologia da Universidade de Michigan. “A proteína spike contém toneladas de açúcar, e o vírus está emprestando as enzimas hospedeiras para juntar esses açúcares”, diz ela. Pesquisas sobre o SARS-CoV-1 sugeriram que a proteína spike de partículas virais geralmente carrega o antígeno de açúcar do grupo sanguíneo da célula hospedeira infectada que produz o patógeno.

O SARS-CoV-2 pode se replicar em células que expressam antígenos do tipo sanguíneo, diz Jacques Le Pendu, um glicobiologista da Universidade de Nantes. Assim, ao tossir ou espirrar, uma pessoa infectada possivelmente libera partículas virais revestidas em seus antígenos do tipo sanguíneo. Isso significa que, se uma pessoa com sangue do tipo A transmite o vírus para uma pessoa com sangue do tipo O, a pessoa do tipo O terá anticorpos que podem combater o vírus. No entanto, se a pessoa que inala as partículas também for do tipo A, ela não terá esses anticorpos.

Os dados da epidemia de SARS também parecem apoiar a ideia de proteção do tipo O. Um relatório de 2005 analisou as consequências de um paciente infectado, expondo 45 profissionais de saúde em um hospital de Hong Kong ao vírus SARS-CoV-1. Dentre as 19 pessoas com sangue tipo O, 8 foram infectadas, entretanto, dentre as 26 pessoas com outros tipos sanguíneos, 23 foram infectadas (J. Am. Med. Assoc. 2005, 10.1001/jama.293.12.1450-c). Em estudos laboratoriais subsequentes, Le Pendu descobriu que os anticorpos contra antígenos do tipo A bloqueiam a interação entre a proteína spike do SARS-CoV-1 e o receptor da célula hospedeira que ele usa para entrar nas células, mas unicamente se as partículas do vírus tiverem sido produzidas em células que poderiam expressar o antígeno A.

Entretanto, Cooling observa que a ideia de que ter sangue tipo O é uma proteção não corresponde à epidemiologia da COVID-19 nos EUA. O sangue tipo O é mais prevalente entre os afro-americanos, entretanto, os mesmos tiveram taxas de infecção desproporcionalmente altas. Esses dados epidemiológicos sugerem que o efeito protetor do tipo sanguíneo pode ser bem pequeno, se comparado a outros fatores, diz ela. “É o seu tipo sanguíneo, em relação à outra pessoa que o expôs, em relação a todas as outras condições genéticas e de saúde adquiridas que você tem”, diz ela.

Embora o estudo medRxiv não tenha identificado associação com o tipo sanguíneo B, Yamamoto e Le Pendu suspeitam que um estudo que inclua mais pessoas do tipo B descubra que o tipo sanguíneo apresenta o mesmo risco aumentado do tipo A.

A presença ou ausência de anticorpos do tipo sanguíneo não é a única maneira que o tipo sanguíneo pode afetar a resposta do corpo à infecção por SARS-CoV-2. O tipo sanguíneo influencia a coagulação sanguínea e um crescente corpo de evidências sugere que a patologia da COVID-19 geralmente envolve coagulação sanguínea hiperativa. Pessoas com sangue tipo O têm níveis mais baixos de proteínas que promovem a coagulação do sangue. “Isso também reforça o argumento de que os indivíduos do grupo O são menos propensos a serem gravemente afetados por essa doença”, diz Yamamoto.

Essas traduções são parte da colaboração entre C&EN e a Sociedade Brasileira de Química. A versão original (em inglês) deste artigo está disponível aqui.

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